O dia em que os meus olhos encontraram os teus 

Estava chuva e vento, muito vento, tinha acabado de sair da confeitaria ao fundo da rua, aquela onde vou todos os dias beber o meu chá e ler um pouco, antes de voltar para o mundo, monótono, aquele mundo que não é meu mas é teu. O meu guarda chuva tinha partido e eu, cheia de pressa para apanhar o autocarro das 17:00 comecei a correr, não importava se me ia molhar, só tinha de apanhar aquele autocarro. Nuns 5 minutos a correr que pareceram horas olho para o outro lado da rua e vejo-te, com o teu cabelo castanho encharcado, a tua gabardine preta até aos tornozelos, calças bege e uma t-shirt branca, mochila aos ombros e um andar rápido mas ao mesmo tempo lento, como quem estivesse atrasado mas soubesse que ia chegar a tempo.

Cheguei á paragem, faltavam ainda 7 minutos para o autocarro chegar e eu já dizia mal da minha vida, se tivesse saído mais tarde da confeitaria ou se tivesse demorado mais tempo a chegar talvez não tivesse de esperar tanto tempo á chuva. Ao mesmo tempo que fico chateada comigo mesma tu chegas, na tua tranquilidade como se nem estivesse a chover, entretanto chega o autocarro, graças a deus um abrigo. Entro, passo o meu passe na maquineta e procuro um lugar para me sentar, um lugar de onde te pudesse ver. Sento-me ao mesmo tempo que uma senhora com os seus 80 anos passa por mim e eu lhe ofereço o lugar. Levanto-me e estico o braço de forma a me agarrar aos varões distribuídos por todo o autocarro, sinto algo nas costas viro-me e os meus olhos encontram os teus, também azuis para meu espanto, fixamos um no outro alguns segundos, segundos que pareciam eternidade e eu não me importava, trazias-me calma e refugio.

Carrego no botão "STOP", ponho um cabelo por trás da orelha, sorrio e saio do autocarro, na esperança de que amanhã possas ser o meu calmante de novo.  

- Os olhos azuis