Não volto

É incrível a maneira como me tens na mão, sempre que queres, só com uma mensagem ou uma chamada, sempre que decides voltar. Vais e vens, vais sem avisar, quando queres e pensas que encontras alguém melhor que eu, e sempre que vais levas contigo um pedaço de mim. Voltas quando queres, quando te apercebes que a outra já não serve para ti, voltas porque sabes que estou á tua espera, que estou aqui. 

 Por vezes penso que já chega, que acabou, que já não me tens mais, mas sempre que penso assim tu voltas com aquelas palavras que sabes que me fazem ficar, que sou o que queres e precisas, mas porquê ? Porquê que me dizes isso se não o demonstras ? Se me fazes sentir uma planta que deixas morrer aos poucos, deixas murchar, que te esqueces que existe e só regas quando vês que está a morrer. Desta vez partis-te e eu não pensei, agi, parti também, deixei de esperar por ti, percebi que não eras tu que me magoavas mas que era eu que me magoava a mim mesma porque era eu que amava. 

 Agora não te tenho mas tenho-me a mim própria, tenho em mim, no sítio, todos aqueles pedaços meus que levavas contigo quando ias embora. Encontrei-me porque parti, não á tua procura mas á minha. 

 Voltaste na esperança que eu ainda estivesse á tua espera, custou-te ver que eu já lá não estava, eu sei que sim, sei que sentes que me perdes-te de vez, que realmente precisas de mim e que todas aquelas palavras que me dizias para me fazer ficar não eram ditas em vão, que eram na verdade sentidas. Mas eu finalmente sinto-me a mim mesma, sem precisar de ti para me sentir bem, sem precisar de me sentir tua.

 Desculpa, agora fui eu que parti, e ao contrário de ti não volto, parti e trouxe comigo eu pedaço de ti, um pedaço que sem ele não consegues dormir, a consciência limpa, a tranquilidade, o sentimento da certeza de que quando acordasses ias ter uma mensagem minha, tudo isso veio comigo, tudo isso partiu, partiu e não volta.