Um dia
Hoje perguntaram-me por ti, onde estavas, como estavas, porque não estavas comigo, fiquei parada por uns segundos, sem resposta, a pensar sem falar, sem dizer uma única palavra, porque na verdade já nem te conhecia.
Se dissesse que já não estávamos juntos ia-me submeter a mil e uma perguntas para as quais não me sinto pronta para responder, como ?, quando ?, porquê ?, e agora ?, estás bem ?, são perguntas como estas que não consigo responder, nem sei como responder.
Optei por aquela mentira inofensiva e que ao mesmo tempo me matava aos poucos e poucos, que é, ele está bem, está em casa, não pode vir hoje. Ambos sabemos que nem podes-te vir ontem, nem vens hoje, nem vais poder amanhã ou para a semana ou até para o próximo mês, ambos sabemos que já não te conheço, já não sei por onde andas ou como andas.

Ás vezes penso em ti, penso onde estarás, o que mudou, quando mudou e porque mudou e depois lembro-me que mesmo sem ti sou feliz, e faço os outros felizes, para a próxima vez que me perguntarem por ti, um dia, eu vou dizer que voas-te, que me libertas-te a mim e a ti, que estás a voar pelas nuvens, e que estás bem, que voas, que não te cortaram as asas, que cantas, como um pássaro livre que pousa em todos os galhos. Que sais-te da minha vida como eu saí da tua e que na verdade não sei onde te encontrar, talvez volte a saber, talvez não .. talvez um dia eu seja o galho e tu o pássaro, porque se eu fosse o pássaro nunca mais pousava no teu galho para que um dia não me perguntassem mais de ti .. porque um dia vou dizer que voas-te, que eu voei, não hoje, não amanhã, não para a semana, não para o próximo mês mas .. um dia.